segunda-feira, 16 de junho de 2008

Poemas




Os ombros suportam o mundo


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.


Tempo de absoluta depuração.


Tempo em que não se diz mais: meu amor.


Porque o amor resultou inútil.


E os olhos não choram.


E as mãos tecem apenas o rude trabalho.


E o coração está seco.
Carlos Drummond de Andrade
Ar
Nessa boca da noite,
Cheira o tempo a alecrin
Muito mais trecalava
o incorporeo jardim
Nesta cava da noite,
Sabe o jesto alfazema
O que antes inebriava
era a rosa do poema.
Nesse abismo da noite,
Era a sorte em lavanda,
calante,na varanda.
A narina presente
colhe o aroma passado.
Pontinuamente vibra
o tempo embalsamado. Carlos Drummond De Andrade
Carlos Drummond de Andrade foi um poeta brasileiro (1902 - 1987), também cronista, contista e tradutor. Entre suas obras de maior destaque, Alguma poesia, Sentimento do mundo e A rosa do povo.

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